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O possível fim do quarto de serviço

Quarto de empregada, foto tirada por José Afonso Junior no projeto "Suitemaster e Quarto de Empregada".
Foto da autora Nathalia Zanardo

A configuração de um cômodo segregado, dentro de uma residência, para os trabalhadores domésticos é uma herança colonial, em que os espaços de serviço são totalmente separados dos demais ambientes. Mesmo que essa configuração pareça distante da realidade atual, até hoje, alguns imóveis refletem o resquício colonial em suas plantas, mas diversas mudanças na sociedade nos levam a acreditar que a existência desse cômodo esteja perto do fim.

Historicamente, o modelo social brasileiro permitiu que a hierarquia da servidão fosse representada até mesmo na configuração das residências ⏤ nos engenhos, os donos ocupavam as casas grandes, e os escravos, as senzalas. Com a abolição da escravidão, uma nova alternativa apareceu, setorizando as residências em espaços sociais, íntimos e de serviço, criando áreas exclusivas para os moradores e seus convidados, enquanto os funcionários possuíam uma área totalmente segregada, próxima aos espaços de serviço.

Evolução do quarto de serviço na planta dos apartamentos brasileiros.
Evolução da localização e do tamanho do quarto de serviço na planta dos apartamentos brasileiros. Fonte: Acervo Folha e Setin

Mesmo com a ocupação das grandes cidades, o vestígio colonial continuou na configuração dos imóveis até a década de 1970, e só no final do século XX o uso e a criação desse cômodo começaram a ser questionados. Evidenciado pela conquista do direito das domésticas e as mudanças nos modelos de trabalho doméstico, em que o funcionário passou a se dividir em várias residências. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2018 menos de 1% dos trabalhadores domésticos no Brasil dormiam em seu local de trabalho, enquanto em 1995 esse número era de 12% no País. 

valorização do metro quadrado também alavancou o desuso desse cômodo, afinal os moradores preferiam pagar por uma área que realmente fosse utilizada. O cenário de conscientização alavancado pela lei e a vontade dos clientes transformou o mercado imobiliário, fazendo com que os novos lançamentos não incluíssem mais a dependência de serviço como um cômodo obrigatório. Mesmo que em imóveis de altíssimo padrão a resistência continue, o mercado oferece possibilidades de transformação do espaço podendo servir como despensa, home office ou copa, tentando quebrar o então modelo de servidão.

Foto da autora Nathalia Zanardo
Arquiteta que entende a profissão como um transformador da sociedade. Acompanhando sempre os novos lançamentos do mercado imobiliário.
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